segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

A caverna I



Risos preenchem a sala improvisada do que agora é a morada de sua melhor amiga. Falam sobre homens e as desventuras pelas quais já passaram com eles, concordando que tinham um modo diferente de encarar a situação que não encontravam em outras amigas. Sem frescuras, frias e racionais, e porque não, até mesmo cruéis. Porém, apesar da descontração, uma amiga olhava para a outra e esse olhar já dizia tudo: por mais amigas que formos, ainda assim você nunca vai me dizer tudo não é? Ainda tem algo escondido por trás deste sorriso de Monalisa que você não me conta, algo que faz você ser desse jeito. Acho que o que você não quer é que saibamos que o seu semblante, por trás da superficialidade, esconde um grito de Munch.

Uau! Ela responde, com seu sorriso característico, que parece nunca abandonar a face serena, mesmo quando os lábios não estão flexionados, um riso que confirma e ao mesmo tempo oscila, botando, como sempre, tudo em duvida. Ela é irônica, mas não tripudia do que a amiga quer saber, a candura que reserva aos que merecem faz sua parte para afastar sutilmente um possível interrogatório. Talvez sim, talvez não. E fica tudo subentendido. A amiga a olha, já acostumada a sua arte de se esquivar, mas dessa vez não pretendia deixar para lá. O que salva o assunto de entrar em discussão foi o toque do celular, anunciando um namorado apaixonado querendo conversar. Ela sabia que se deixassem, os dois iriam horas a fio naquele papo alimentado pela distancia que os separava. Afortunada pela deixa, esgueirou-se antes que ela pudesse detê-la, dizendo que já passara da hora e precisava ir embora.

Do alto a janela, as duas se despediram, e ela acompanhou seu trajeto até a esquina onde deveria encontrar um ponto e pegar o ônibus. Mas ao dobra-la, não foi nele que parou.

Aconchegou-se mais ao casaco, pois a noite estava úmida e fria e decidiu que, depois daquela conversa, seria bom fazer uma caminhada.

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