domingo, 31 de julho de 2011

Antologia Sala de Cirurgia

Chamada para a antologia Sala de Cirurgia, organizada pela querida Amanda Reznor, da qual participarei, com muita honra, como autora convidada ^^.


Capa provisória da antologia - quem tem moral de ficar cinco minutos na sala de cirurgia com uma Amanda satânica dessas? ehehe >:-D

“A U.T.I. está lotada. Médicos, enfermeiros e auxiliares precisam ter sangue frio para lidar com as tragédias que lotam os prontos-socorros e preservar com responsabilidade o maior bem da humanidade: a vida. Mas, acidentalmente, erros médicos podem ser cometidos no processo, trazendo consequências avassaladoras aos pacientes envolvidos. No entanto, e se... O erro não foi acidental? E se um ou mais profissionais da área da saúde se reunissem para praticar atos sádicos, para infernizar o organismo do paciente, ou, quem sabe, até mesmo para se vingar? Prepare-se para criar incisões nos órgãos das letras e criar traumatismos nos olhos daqueles que lerão seus contos, porque nem autor nem leitor sabe que fim levará após adentrar a... SALA DE CIRURGIA!”
A temática é restrita ao universo fantastico e seus subgeneros (policial, suspense, terror, ficção, steampunk, etc.) e com o tema proposto para a antologia. Tem limte generoso de caracteres (de 25 a 38.000 \o/ êeee!!) e prazo de 20 de junho de 2011 a 20 de outubro de 2011. Tudo de bom!
Maiores informações sobre a antologia, regulamento e proposta, no blog da Amanda: SALA DE CIRURGIA.
E tenham medo, muito medo, ehehe!!

Participem!

"Making of" dos meus contos - VII Demônios (GULA)

Continuando os meus Making of, ou por onde tudo começou...(sim, eu sou viciada nessa coisinha de bastidores, ehehe), o tema dessa vez dos 5 livros dos quais participo da Editora Estronho é a série VII Demônios.

Peculiar essa série da Estronho. Quando eu comecei a reparar nela, já tinha se passado o primeiro tema (Inveja) do qual seria um dos que eu gostaria de escrever. Mas tem coisas que demoram a serem ‘vistas’ e o potencial da série dos demônios só me chegou aos olhos de forma interessante quando eu passei a entender a proposta: pecado + demônios. A idéia girava em torno dos 7 pecados capitais, associados aos seus 7 demônios. Os pecados deveriam ser retratados, tentando isola-los dos outros (um desafio!), utilizando-se dos demônios respectivos, mas não era necessariamente uma obrigatoriedade. 


Mas eu, tendo meu gosto pelo terror amadurecido por criaturas bestiais do universo de Spawn, não podia ignorar uma chamada dessas, nem a oportunidade de me utilizar (não, me esbanjar) das crias do inferno, de modo que usei cada respectivo demônio nos meus contos.

E lá se vai mais uma vez o ponto mais importante: pesquisa. A Estronho dava um parecer breve sobre os demônios que estava por trás de cada pecado, segundo o demonologista e teólogo Peter Binsfeld. Fui atrás de historias sobre os bestiais, suas características, tirando pontos chave para permear a historia, que não devia ser muito longa, de seus detalhes cruciais. Assim como também me embreei pelo universo de cada pecado do qual trabalhei e descobri muita coisa subjetiva neles, que eu nem imaginava que poderia representa-los da forma que fazia. Era um jogo de interpretação, remetido desde os tempos mais remotos, até nossa infausta era atual. Mesmo que eu não escrevesse sobre o tema, me foi muito interessante saber tanto sobre eles e enxergar seu potencial.


Bem, no inicio, eu criei alguns “pré” conceitos dos 7 temas, dizendo quais eu me interessava e quais eu não conseguiria tirar nada de bom para escrever. Leigo engano. Mais uma vez o desafio de contos me ajudou nessa parte, mas dessa vez não foi por ser um tema incomum. Esse, de longe, é o tema que mais perto esta dos meus gostos. Mas pelas particularidades deles poderem me atrair ou não num primeiro momento.

Eu disse assim: “Os pecados que eu não acho que conseguiria escrever muita coisa: Gula, Preguiça, Luxuria”, era como se estivesse prevendo algo, minha própria sina em me contradizer. Rs.


Pois, foram os 3 temas no qual resolvi escrever e fui selecionada. Ah-ah.


O primeiro livro: GULA

  GULA (BELZEBU)


Um conto inusitado. O prazo dele estava junto com o da Inveja, mas eu perdi o fio da meada para fazer o primeiro conto e comecei a olhar a Gula do mesmo modo que se olha um doce curioso na vitrine que num primeiro momento você repudiou por uma cor berrante ou por parecer excessivamente melado, mas, depois, voltando a ele, você começa a perceber que ele tem detalhes que podem ser melhores do que a sua primeira opção e talvez até um gosto mais original. 

De inicio eu só cogitei a idéia. Tentando varrer minha mente em busca de algo que se encaixasse com o tema, me lembrei de uma historia antiga que tinha escrito, na verdade, de um acontecimento numa historia escrita há muitos, muitos anos. Me deu um lampejo. Era um tempo em que escrevi muitas coisas baseadas em contos de fadas e fábulas, pois, nas manhãs de domingo, meu pai insistia que eu assistisse um programa que passava na TV Cultura chamado “O teatro dos contos de fada”. No inicio fiz isso relutante, mas depois comecei a gostar, principalmente por ele desmitificar aquelas historinhas amaciadas que os estúdios da Disney nos enfiam na cabeça quando somos pequenos, e conhecemos contos de fadas somente através de historias cheias de açúcar. Esse não, as encenações eram como um teatro mesmo, pessoas reais, um cenário, e uma historia verdadeira. Nele, a Ariel da Pequena Sereia morria no final e nem era tão boazinha assim, e a Bela da Fera na verdade foi refém do monstrengo por um bom tempo, após ele ameaçar de morte seu pai; o Flautista mágico levou as crianças, como atraia os ratos, para outra dimensão, sem que sem pais nunca mais voltassem a vê-los. Era a real das historias, que na época, eu ainda desconhecia, e gostei muito de ser apresentada a essas versões originais.

Uma das historias que escrevi na época baseada em tais fabulas, foi um acontecimento envolvendo o mito de João e Maria. Os irmãos que para não se perderem na floresta, deixam migalhas de pão pelo caminho, e acabam na casa da bruxa má, que tem uma choupana feita de doces e que aprisiona João, para engordá-lo e depois comê-lo.

Casa de doces...comer Joãozinho...gula...era isso!


Só que coloquei tudo elevado ao extremo. Os sentimentos humanos deformados, os desejos, as vontades irracionais. Pois a Gula não tem a ver apenas com comida, ela é um estado de insatisfação desmedido, que se reflete em vários atos, além da refeição convencional. Pode-se querer se alimentar de conhecimento, assim como também do desespero, ou de almas.
Não foi proposital, mas as primeiras palavras que escrevi dele foi durante meu intervalo de almoço, na cozinha do meu serviço. Rs. Ao terminar a primeira pagina, olhei ao redor e pensei “Que lugar inspirador, rs”.

Eu não esperava que ele fosse ser aceito, por alguma razão, o achei pesado. Também não foi de propósito, para ter nuances tépidas suficientes para agradar, mas acho que fui envolvida em seu clima mórbido por conta própria e a escrita se tornou tão densa quanto o tema. No final, era como acordar de um baquete do diabo e me surpreender com o modo como me fartei, e de como a cozinha estava toda suja de sangue. Uau...sai meio tonta de lá, mas não sem antes deixar o feito nas mãos interessadas. O que iam fazer depois, eu já não sabia.

Gostei muito de participar deste volume com A Filha do Mal e desentranhar algumas facetas de Baal-zebu.

Inspirações musicais para o tema dos VII Demônios é sempre muito parecida: tirando algumas composições especificas, eu uso quase todas as musicas da trilha sonora do Silent Hill, desde o primeiro jogo (1 ao 4 "The Room") até os mais recentes (Origins, Homecoming, Shattered Memories). Elas são simplesmente soberbas para quem gosta de escrever terror. Akira Yamaoka é meu guia musical nos escritos do gênero.

Um trechinho de degustação de A filha do mal:

"Ele jogou-a sobre uma mesa e pelo cheiro pérfido, aquele era um verdadeiro matadouro. Sentia o sangue fresco no qual deitara encharcando suas roupas, fez uma careta de asco, mas nada comparado ao terror que sentiu em ver a criatura com braços humanos, mas um corpo semelhante a uma mosca gigante. Tentou gemer, debater-se, mas todas suas ações tornaram-se inúteis diante da gelatinosa sensação em que estava imersa."
(...)


Algumas inspirações musicais mais fortes:
A Stray Child - (Akira Yamaoka in Silent Hill 3) 
Searching the Past (Akira Yamaoka in Silent Hill Shattered Memories)
Max Payne OST (Marlyn Manson) 

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Os autores selecionados, com os quais compartilho este volume:
Amanda Reznor (Tributo a "El-Rei"), Claudia Zippin Ferri (A ficha criminal da juíza), Fabiane Guimarães (O devorador de almas), Ghad Arddhu (Banquete de Maná e oração à unificação), Lemos Milani (Bon Gourmet), Lino França Jr. (O voo da mosca), Marcelo Augusto Claro (Abismo visceral), Marius Arthorius (Beelzebub carne vorare), Raphael Montes (Banquete), Valentina Silva Ferreira (Condenado), Verônica Freitas (A filha do mal) e William Nascimento (Um pequeno pedaço do paraíso).






segunda-feira, 4 de julho de 2011

"Making of" dos meus contos - Cursed City

Irei começar pelos contos selecionados pela Editora Estronho este ano.
Já são 5 livros nos quais tive a oportunidade de participar. Mais do que imaginei possível a algum tempo. Nossa! Mas esta editora, que tem um leque bem variado de antologias, para mim é como uma casinha de doces, na qual posso me fartar com os temas que, outrora, eu não encontraria com tanta facilidade para escrever e ainda ter a oportunidades de ser publicado.

Bem, pensei em escrever um pouco sobre o processo de criação de cada um deles e das coisas que me inspiraram a escrevê-los, além do meu próprio gosto natural pelo terror. É, é, eu sou daquela que gosta de umas notas no final do livro, de um “making of” estilo “veja de onde saiu essa ideia louca”, rs.


O primeiro (e mais aguardado) livro foi:

Cursed City – Onde as almas não tem valor

A primeira vez que vi a chamada dessa antologia, foi através de uma amiga, que me mostrava a nova seleção da Estronho. Eu vi e pensei “Legal, bem original essa”, mas não tinha a intenção de escrever num primeiro momento. Pensei que velho-oeste não tinha nada a ver comigo, e dessa forma, me passou batido o tema.
Porém, com o tempo, eu fui gostando da ideia de escrever sobre coisas que nada tinham a ver comigo, principalmente por causa do desafio de contos que passei a fazer parte com duas amigas blogueiras (Celly e sua irmã, Yane), instigando a escrita de temas incomuns aos nossos gostos. Então comecei a olhar Cursed com outros olhos e me perguntar: Porque não? Foi então que a primeira centelha desta história se acendeu e o resto, um caderninho rosa que eu carregava comigo terminou de contar, rs.

Eu queria inspiração, mas não apenas isso. Estava inspirada com a possibilidade de me embrenhar por um tema diferente, porém, assim como nos contos do desafio, o primordial nesta etapa não é apenas querer escrever a historia, mas saber sobre o que se irá escrever, e ai começa o trabalho de pesquisa.
Eu sabia que tinha alguma coisa entre os quadrinhos aqui de casa, era só fusar e fusar, que sairia alguma coisa, e achei aquelas velhas edições em preto e branco e de capa rosa das Historias do Oeste. Havia apenas uma edição aqui chamada Sand Creek. Foi o suficiente para começar. Sua primeira página foi o estopim, alias. Mostrava a perspectiva de um abutre rondando algo que lhe atrai o olfato. A cena começava bem do alto, dos cânions:

“O abutre, junto com o coiote, é o varredor das zonas desérticas. Como todos os animais de rapina diurnos, é dotado de visão aguçada...”.

Depois a cena acompanha a descida da ave carniceira, mostrando o que ela rondava, até a perspectiva cair na cena do homem no chão, ainda vivo. Esta cena não só me deu uma ideia de como começar meu conto, como a estrutura dele: Começo descrevendo o ambiente de forma ampla, e depois vou afunilando os acontecimentos, até me deter em algo bem especifico, que irá conduzir o resto da trama, da mesma forma que os quadros da revista.

O conto em si começou a ser escrito na cidade de Ouro Branco, em MG, nas minhas férias de dezembro, quando para este estado fui, visitar amigos. Esta cidade tem uma grande serra e as ruas uma peculiar poeira vermelha proveniente do minério extraído, e um jeito de lugar bem pacato.  A poeira me lembrou o deserto, os cânions, o Golden Valley, então...peguei o caderninho que havia trazido na mala e comecei...quando terminei a viagem, em Belo Horizonte, fui à sebos atrás de revistas de Western e voltei com algumas boas inspirações e indicações (salve o Edificio Maleta e o Anderson da revistaria na Rua da Bahia!).
Também não consigo escrever sem música, sem ter algo inspirador ao fundo me impulsionando. Não foi de todo fácil achar musicas de velho-oeste que se encaixassem com o tema sobrenatural, mas descobri boas canções que tinham nuances soturnas e se encaixaram perfeitamente em Cursed City. Ennio Morricone foi o principal, com “Esctasy of Gold” (Metallica que me perdoe, mas essa ficou bem mais no tom do oeste que eu precisava), “Come Una Sentenza” e “Armonica” (ou “Era uma vez no oeste”), essa última com um som lembrando gaita que arrepia até a alma. Também usei muito o oboé de Grieg em “Entardecer nas Montanhas” nas cenas em que Anabelle agoniza, bem sombria essa musica também. 

Como tema, eu não conseguia imaginar outro: vingança. E imaginava isso sendo feito de um modo incomum, algo que pudesse aliar um sofrimento humano e um revide sobrenatural, na mesma pessoa. Uma vez que, quem entrasse em Cursed City, provavelmente não conseguiria sair, que essa pessoa, pelo menos conseguisse seu ‘troco’, mesmo que precisasse deixar sua alma a mercê das sombras.

No final, eu estava, diferente do começo, com muita vontade de participar. Tinha gostado muito de escrever essa historia, e quase estourei o prazo, porque não conseguia me decidir pelo nome do conto! Rsrs, de inicio, pensei em “A vingança dupla” ou “A vingança de Maniah”, mas um nome súbito me acometeu, e pensei na ideia que queria passar...então o intitulei como “Deixe-me Entrar”, que, segundo algumas pessoas, ficou legal. Ainda bem! E depois foi roer as unhas esperando o resultado, que recebi com muito contentamento e alivio. Rs.

Aqui vai um trechinho de degustação.

“(...) Anabelle sobressaltou-se, embora não pudesse mover o corpo. Sentia como se todos seus ossos tivessem sido esmigalhados e seu rosto colado ao chão. Gotas de sangue escorriam por dentro de seu olho, mas ainda conseguia move-lo lentamente. Mas nada viu. Só sentia a presença e o medo.(...)”


Tem uma frase do Stephen King no final do livro Tripulação de Esqueletos (1985) que gosto muito:
“Obrigado por acompanhar-me – eu gostei. Eu sempre gosto. Espero que tenha chegado são e salvo e que voltará – porque, como diz aquele curioso mordomo, naquele singular clube de Nova York, há sempre mais histórias”.

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Os comparsas com os quais tive o prazer de dividir os alicerces desta cidade amaldiçoada:

Xerife prefaciador: Adriano Siqueira

Bandido Convidado: André Bozzetto Jr. (A balada do coyote)

Os Procurados: Alfer Medeiros (O gigante, a curandeira e a lutadora de kung-fu), Alliah (Just like Jesse James), Ana Cristina Rodrigues (Aquele que vendia vidas), Carolina Mancini (Número 37), Chico Pascoal (Duas lendas), Cirilo S. Lemos (Por um punhado de almas), Davi M. Gonzales (Ainda dói?), Ghad Arddhu (Oricvolver), Georgette Silen (A mão esquerda da morte), Jota Marques (As desventuras do pequeno Roy), Lucas Rocha (O fantasma de Franklin Stuart), M. D. Amado (Nem sempre a fé te salvará), Marcel Breton (Sombras), Romeu Martins (Domingo, sangrento domingo), Tânia Souza (Demônios da escuridão),  Valentina Silva Ferreira (Sally), Verônica Freitas (Deixe-me entrar), Yvis Tomazini (Só o dinheiro dos mortos) e Zenon (Descanse em paz).

Continuo em breve com os outros livros.

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