sábado, 24 de julho de 2010

Nostalgia

Foi o mundo que diminuiu ou a gente que aumentou? Ou foram nossas percepções que mudaram com o passar dos anos em que crescemos?

Olho para uma casinha onde funciona uma pré-escola. Tudo muito simples, onde crianças estão como as outras crianças, livres, curiosas, pequenas e com uma noção de mundo gigantesca. Logo atrás existe, fechado por um portão de grade, um terreno imenso e vazio, apenas com algumas arvores e arbusto baixo.
Olhando daqui, apesar do tamanho, não é uma floresta desconhecida. Provavelmente se andasse meio metro dele perderia o interesse pelo descampado de mato ralo. Uma bela paisagem para um artista? Talvez, mas ainda precisaria de muito para ser interessante.
Mas pergunte a uma criança o que ela vê neste terreno.Pergunte a criança dentro de você, se ainda a encontrar, o que ela sente ao ver aquele mato pelas grades do portão.
A sensação maravilhosa de nostalgia volta, como um perfume antigo que emerge das páginas de um livro foleado depois de muito tempo e ao tocar o seu nariz lhe provoca um sorriso.

Para a criança aquele é o desconhecido. O gigantesco mundo desconhecido. E que ela esta ao mesmo tempo que assustada, ansiosa para ver. Um mundo que tem hora e permissão para ser visto, degustado e por isso é ainda mais esperado, respeitado.
Olho para o terreno vazio e penso numa mão adulta e indiferente abrindo as grades do portão, mas que são o umbral do reino desconhecido para o pequeno ser ansioso que o atravessa correndo, com o coração aos pulos de certa emoção sem nome. Ao pensar pelos olhos desse pequeno ser, vejo como o terreno se tornou imenso agora, cheio de seiva, enquadrinhado aos poucos em zonas particulares, a arvore que faz sombra, a outra que é boa para subir, o terreno para o pega-pega, ou aquele onde tem flores, no meio ficam os mais afoitos em brincadeiras acaloradas e no fundo...bem, o fundo é o terreno para os corajosos ou para os esconderijos ou para os segredos muito secretos. Por esses olhos pequenos de vida tenra cada ponto que se aproxima do final do terreno é como uma aventura maior, em direção ao verdadeiro desconhecido, de certa forma o lugar para se temer e se ganhar. Teste sua coragem indo até lá, até onde o silencio se avoluma e o som vai ganhando eco junto a brisa soprada na grama que se intensifica. Porque quando se é criança o mundo é tão grande que mesmo um terreno no fundo de uma creche pode ser uma terra de maravilhas e onde conseguimos testar nossos primeiros medos. E vencê-los.

E então ouço uma voz me chamando para aquele mundo que diminuiu, fazendo a magia do momento se romper. Vejo que o terreno esta mais silencioso do que quando o vi da primeira vez, talvez ainda procurando ecos das risadas do passado. Sou surpreendida por uma funcionaria do lugar estranhando minha expressão introspectiva. Era hora de ir, hora de enfrentar os medos que ficaram maiores e inevitaveis, mas cuja força para vencer, eu sabia, começara dali. Sorrio ao pensar nisso, na pequenez inocente construindo imperceptivelmente as bases do futuro do qual nem sonham ainda.