terça-feira, 9 de outubro de 2012

Se eu pudesse...


Se eu pudesse pedir algo, seria para que um dia eu acordasse e descobrisse que tudo mudou. Seria uma benção ser agraciada com a inexistência de minhas lembranças, e não estar mais aqui ao reabrir os olhos de manhã. Que eu pudesse ir para um lugar só meu, onde ninguém me conhecesse e minha vida pudesse recomeçar do zero. Se eu pudesse pedir algo...

            A caneta riscou a madeira na qual apoiava a folha de papel e então ela despertou, percebendo que acabara o espaço que tinha para escrever seu pedido. Piscou os olhos, que se encheram com a luminosidade súbita do dia que ela esqueceu estar ali naqueles poucos segundos no qual sua escrita repuxada rabiscou o pedaço de papel. Suspirou, vendo os poucos que ali estavam naquela hora matutina, visitando o alto do pequeno monte religioso e olhou para o que tinha escrito, percebendo que nada do que quisesse caberia ali. Ao invés de depositar seu pedido na urna que recebia aqueles pedacinhos de agradecimentos, rogos e lastimas, amassou-o na palma de sua mão, deixando a caneta que era usada por tantas mãos, para trás.

            Bem, se eu pudesse pedir algo, é isso. Mas eu sei que ninguém pode me ajudar. Nem o Senhor.