sábado, 4 de julho de 2009

As respostas então dentro de você



Enquanto fusava na internet atrás de material sobre Jung e alguma de suas idéias, enconmatéria interessante sobre autocidi postá-la, enquanto elaboro o que vou escreve sobre O poder que está na consciência da sombra

Por Otávio Leal - Terapeuta holístico, yoga e meditação


"Prefiro ser íntegro, a ser bom" C. G. Jung

Medite no que mais lhe incomoda nas pessoas. Não aspectos superficiais, mas algo que realmente você abomine, ou até odeie. Talvez seja ingratidão, traição, injustiça, ciúmes, medo ou impaciência. Reflita: Você já pensou porque odeia isso?

Agora, espero muita coragem de você. Será que o que te incomoda nos outros não é algo que está aí escondido dentro de ti? Talvez tão escondido que agora faça parte do teu inconsciente? Jung dizia: "Tudo o que nos irrita nos outros pode nos levar a um conhecimento de nós mesmos".
Vamos mais fundo nesta questão: Toda criança é total ao nascer. É inteira, mas no decorrer de sua vida começa a se dividir. Ela é influenciada pela sociedade, religião e família, começando a negar algumas características consideradas más. É o jogo do que é bom ou mau. Assim com a chegada da maturidade ela já negou muito da sua personalidade real. Ela esconde uma parte de si, acha pecado, errado e sujo algo que é dela, e tudo o que é rejeitado fica escondido, ou guardado no inconsciente e isso se chama sombra, é tudo o que negamos na busca absurda de sermos perfeitos, com um eu ideal.


Um exemplo é a história do médico e o monstro, Dr. Jekill e Mr. Hyde. Claro que devemos guardar das pessoas que nos relacionamos um pouco das nossas sombras, senão criamos confusões todo o tempo. O que não podemos é negá-la de nós mesmos, até porque ela contém aspectos que são muito legais.

Todos nós temos uma máscara que é aquilo que passamos para o mundo. Na astrologia chamamos de ascendente, é como às pessoas vão te ver, é o teu impulso, a tua personalidade adquirida com a vida. Nós passamos aquilo que temos de melhor.


O que somos e a imagem que passamos
Persona, na psicologia, é como gostaríamos que todos nos reconhecessem. Exemplo: No namoro superficial colocamos nossa persona, e num relacionamento mais profundo acabamos por mostrar nossa sombra. Fazemos nosso eu se dividir em 3 partes:

O Eu perdido - tudo o que reprimirmos para agradar "os outros".

O Falso Eu - a imagem que criamos para agradar "os outros".

O Eu negado - as partes que "os outros" ensinaram que são negativas e que são negadas.

São exemplos: egoísmo, raiva, desejos sexuais (reprimidos), vingança, "erros do passado", culpa (que não cria nada), traição, falsidade, desejo de poder, segredos da alma, mentiras, as nossas brigas com Deus/Deusa, "pecados", vergonha, etc.

É provável que você tenha a maioria dessas características e outras mais. E não é só você. Todos são assim. Reconheça isso.

Jung sabia que a sombra é perigosa quando não reconhecida, pois projetamos nossos aspectos destrutivos no mundo e "nos outros" e somos inteiramente escravos da sombra até que a mesma domine nossa vida e somente "pulsemos" ódio, tristeza, julgamentos, dor, reclamações, etc. Começamos a ver defeitos em todas as pessoas, julgarmos e enxergamos a sombra do nosso vizinho, de religião que não seja a nossa, de outra cultura, mas não vemos a nossa sombra.

Muitas das "Guerras" espirituais ou religiosas acontecem exatamente por isso. Vemos trevas em tudo e essas trevas são projeções das trevas que temos dentro de nós. Atos impulsivos que depois geram arrependimento. Situações em que se humilha os outros. Raiva exagerada em relação aos erros alheios. Depressão quando se olha para dentro. Francisco de Assis era sombra e luz, mas escolheu o caminho de luz, Hitler era sombra e luz, mas, escolheu o caminho da sombra. Hitler tinha a semente de Francisco, mas Hitler se tornou um Hitler e Francisco, tinha a semente de Hitler, mas se tornou um Francisco. Francisco trabalhou sua sombra, olhou para dentro e tornou-se um mestre que é ícone de compaixão, tolerância e amor à vida. "


A constante vigília em ser e fazer o bem
É um trabalho para toda a vida que como recompensa nos permite perdoar aos outros e a nós mesmos pelo que achamos "mau" pois a compaixão e tolerância inicia-se conosco e expande-se aos próximos. A sombra é muito primitiva. Vem de um passado remoto, desde, talvez, o surgimento dos hominídeos. Está em nossa mente e coração é chamada, também, de memés. No livro "O Gene Egoísta", Richard Dawkins estuda que os memés são transmitidos pela cultura, fofoca, religião, livros, filmes e tudo que contribui para aumentar nossa sombra individual e cultural. A fofoca seria talvez o pior memes - o pior fator humano, a fofoca de dentro, a fofoca de fora.

Quanto mais felicidade e criatividade vamos adquirindo na vida, mais a sombra aumenta. Quanto mais luz, mais sombras e escuridão; todos os gênios da humanidade tiveram sombras muito fortes, quanto mais luminosa for a personalidade consciente, maior a sombra, portanto, não projete tua sombra em outro. Perceba essas projeções e suas limitação.
Muitos pais se projetam nos filhos exigindo aspectos de perfeição que eles mesmos não tiveram na vida. Pessoas ficam trabalhando com o chamado pensamento positivo. Mentalizando: "isso é positivo, isso é positivo", "isso é positivo eu sou luz", "eu sou luz", "eu sou luz". Trabalhar assim com a mente, pode ser benéfico, mas por um período pequeno de tempo. Ficar achando que tudo é positivo pode fazer com que neguemos a nossa própria sombra e os aspectos egoístas e perversos. Quem não tem essas válvulas de escape que muito se manifestam no bom humor, tem a sombra reprimida e isso gera: sentimentos exagerados, de posse em relação aos outros. Alguns espiritualistas teóricos e religiosos intolerantes tem um "discurso" cheio de palavras lindas como amor incondicional, fraternidade, mas só tem o discurso na teoria. Não amam nem uma pessoa quanto mais a todos, incondicionalmente. Escondem a pior de todas as sombras - o fanatismo religioso, a intolerância com teus companheiros de crenças diferentes.
A arte de viver sem máscaras
O filme francês "8º dia", conta a vida de um motivador de comportamentos positivos em empresas e congressos, que durante seu trabalho só fala palavras bonitas mas, ao ficar em contato consigo próprio, encontra um universo de situações vazias de negativismo e dor. Conheço motivadores e religiosos que não se auto-investigam e inconscientemente, tentam passar aspectos legais na vida de seus alunos, mas suas palavras são agressivas, duras e inflexíveis, nota-se gestos, atitudes treinadas, decoradas, nada espontâneo ou que venha do coração. Seu suposto sucesso se dá porque seu público é formado por pessoas que gostam da dor e da humilhação. Nossas luz e sombra criam contradições e paradoxos em nossa alma. Qual caminho seguir? O que eu quero, ou o que "os outros" querem de mim?


A Ganância

É isso o que o homem está fazendo com o mundo....
Imagem: www.deviantart.com

quinta-feira, 2 de julho de 2009

O Silêncio

Estava revendo as comunidades da qual participo no orkut esses dias e achei a descrição de uma delas ("Não me arrependo do meu silêncio") muito a minha cara (como faz muito tempo que participo dela, tinha até esquecido como era legal essa descrição). Vou reescrevê-la aqui:

"Existem momentos de falar e momentos de silenciar. Escolha qual desses momentos é o correto, mesmo que tenha que se esforçar para isso. Por alguma razão, provavelmente cultural, somos treinados para a idéia de que somos obrigados a responder a todas as perguntas e reagir a todos os ataques. Não é verdade... mas você responde somente ao que quer responder e reage somente ao que quer reagir. Você nem mesmo é obrigado a atender seu telefone pessoal. Falar é uma escolha, não uma exigência, por mais que assim o pareça. Você pode escolher o silêncio. Além disso, você não terá que se arrepender por coisas ditas em momentos impensados. ME ARREPENDO DE COISAS QUE DISSE, MAS JAMAIS DO MEU SILÊNCIO. Responda com o silêncio, quando for necessário. Use sorrisos, não sorrisos sarcásticos, mas reais. Use o olhar, use um abraço ou use qualquer outra coisa para não responder em alguns momentos. Você verá que o silêncio pode ser a mais poderosa das respostas. E, no momento certo, a mais compreensiva e real delas".

Eu amo o silêncio. Já fui elogiada, criticada e caracterizada por isso. Antigamente eu achava que fosse um ponto negativo meu, por algum tempo eu usei ele da forma errada mesmo, para me isolar, o silêncio era um muro em volta de mim, uma instrospecção acentuada, um reflexo da minha timidez atingindo um nível perigoso.
Hoje eu sei cuidar melhor disso, sei que não sou anti-social por causa do meu silêncio, sei que ele serve para coisas muito boas, embora ainda tenha pessoas que o critiquem (eu não ligo, eu até gosto de ouvir criticas, elas me ajudam a identificar onde estou errando). Algumas pessoas até confiam mais em mim como confidente justamente porque sabem que eu não saio por ai falando nada aos quatro ventos, que eu só falo quando necessário, com quem eu quero e quando eu quero. Hoje eu sei que meu silêncio não é isolamento, ele não impede mais ninguém de se aproximar de mim. É um modo de vida que aprendi a dilapidar, tirando as partes mais grosseiras, que me deixavam com um ar assustador (rs), para ser apenas eu, com meu jeito de ser, reservada, na minha, mas receptiva as pessoas que quiserem me conhecer. Eu amo ser assim.

"Há tanta suavidade em nada se dizer, e tudo se entender."
( Fernando Pessoa )

domingo, 21 de junho de 2009

Dicas para escrever melhor

Estou fusando na net nesse domingo vagaroso, lendo coisas...e me deparei com um post em um blog que falava de umas dicas para escrever de um escritor que gosto muito, o Stephen King.
Muitos acham que eu sou fã do King pelo fato de ser fã do gênero do qual ele é considerado o mestre contemporrâneo (terror). Na verdade eu ainda não virei fã de escritor nenhum, tem os que eu gosto, mas não sou devota de nenhum em especial, rsrs. Apesar de ter mais de 20 livros do homem, não sou fã dele, por vezes a sua literatura me irrita um pouco com um certo excesso de 'informalidade' (não sei se é coisa tipica da cultura Mcworld de acabar meio que estilizando as coisas), mas é só às vezes, boa parte do tempo ele esta me assustando (ou me fascinando) com suas histórias que vão de cemitérios zumbis até contos sobre adolescentes buscando o autoconhecimento. Foi um bom ponto de partida também para eu começar uma leitura mais madura do gênero terror e conhecer outros escritores do mesmo gênero e gêneros derivados deste.

Mas bem, bem, se tem uma coisa que o King sempre frisa é que ele escreve demais, e como! Tem até livro estilo 'fundo de gaveta da escrivaninha velha' que ele resolveu escrever com contos deixados de lado por muito tempo (Pesadelos e Paisagens Noturnas que o diga!). Ele escreve bons contos como Às vezes eles voltam (não sei se é porque Sombras da Noite foi seu primeiro livro de contos, mas os contos dele são muito bons) que me deixou arrepiada a noite toda. Mas a maioria (pelo menos depois desse primeiro livro) deixa a desejar, pois como dizia Jorge Amado, ser escritor de romance e de contos e fazer os dois estilos terem qualidade é coisa rara (se referindo a Graciliano Ramos, que fazia os dois muito bem, mas também pudera, Graciliano era extremamente conciso), e se tem uma coisa que o King é, é prolixo assumido. Mas gosto da maneira como ele descreve as coisas (jeito que até adaptei para mim, pois também gosto de fazer isso), claro que num romance fica muito melhor, tem mais 'espaço', rsrs.

Bem, bem, vamos as dicas que o autor dá para escrever bem (dicas tiradas do blog Efetividade.net):

Vá direto ao ponto - ou pelo menos chegue logo ao ponto. Não desperdice o tempo do leitor com longas introduções e prolegômenos. Não gagueje.
(Putz, eu fazia tanto isso, antigamente eu achava importante essas 'preliminares literárias', mas tenho aprendido que isso não cansa só meu leitor, como a mim também, rs).

Escreva um rascunho e deixe decantar - depois de escrever o rascunho, guarde por algum tempo, aguarde maturar, e só então revise e prossiga. Isto lhe permitirá ver o texto sob outra perspectiva, diferente daquela sob a qual você o escreveu, e assim facilita aplicar os cortes e edições que você talvez nem perceberia que precisava fazer.
(Outra coisa que também tenho feito com frequência: revisão de textos antigos e de 'novos', mas que deixo 'descansar' para só então ver melhor como está, é uma forma de criar um novo gás para escrever também, caso a inspiração tenha dado uma murchada ao longo da escrita).

Corte seu texto - King fala em cortar 10% do total - foi um conselho que ele recebeu em uma carta de rejeição de um texto seu, no início da carreira, e que seguiu desde então. Remova palavras, frases e capítulos supérfluos.
(Esse corte é puxado pela dica anterior de deixar o texto descansar um pouco. Pegar ele depois de um tempo ajuda muito a ver esses pontos a serem editados - e como aparecem! - e até coisas que poderiam ser escritas de maneira a economizar muito!)

Leia muito - precisa explicar? Para escrever bem, é preciso ler bem. Aumentar sua quilometragem, aprender fatos e estilos novos, saber melhor o que fazer (e o que não fazer). Não é difícil, e vale a pena.
(Voltei a ler bastante, pois minha vontade de escrever voltou com força depois de muito tempo meio 'inativa'. É muito importante para desenvolver o vocabulário também e formas de se expressar (só quem escreve sabe como é frustrante ter a idéia, mas não conseguir expressá-la no papel)).

Escreva muito - o aperfeiçoamento vem com a prática, assim como nos esportes. Escreva, e depois escreva mais, e assim você vai melhorar cada vez mais.
(Escrever e escrever, e depois escrever mais um pouquinho nas linhas que sobrarem é meu passatempo favorito!)

sábado, 6 de junho de 2009

A arte de perder


UMA ARTE
Elizabeth Bishop

A arte de perder não é difícil de dominar.
Tantas coisas contêm em si a prerrogativa
Da perda, que perdê-las não é nenhum desastre.

Perca um pouquinho a cada dia.
Aceite, austero, a perda das chaves da porta, a hora gasta inutilmente.
A arte de perder não é difícil de dominar.

Depois perca além, mais rápido:
Lugares, nomes, situações...tantas coisas.
Nada disso trará um desastre.

Perdi o relógio de mamãe. E veja!

minha ultima, ou antepenultima, de três casas amadas que tive.
A arte de perder não é difícil de dominar.

Perdi duas cidades lindas.
E um império que eu possui, dois rios, e mais um continente.
Sinto falta deles. Mas não foi um desastre.

Mesmo perder você (a voz engraçada, o gesto que eu amo) Não muda nada.
Pois é evidente que a arte de perder não é tão difícil de dominar
por mais que pareça (Escreva!) um desastre.

Nos rascunhos de Bishop para o poema, a conclusão de One Art fica muito
mais explícita, como é possível ler nesse trecho:

All that I write is false, it’s evidentThe art of losing isn’t hard to master.oh no.anything at all anything but one’s love. (Say it: disaster.)

Tradução livre:
Tudo o que escrevi é mentira, é evidente
A arte da perda não é dificil de dominar
oh não qualquer coisa, qualquer coisa exceto o amor de alguém.
--------------------------------------------------------
Extraido do filme "Em Seu Lugar" (In her Shoes) - 2005
- Sobre o que fala o poema?
- Perda..? Amor...!
- Ah!E o que quer dizer isso? Que o amor já esta perdido? Bishop escreve isso como uma possibilidade, uma probabilidade? Como?
- Bem...a principio ela fala sobre perder coisas reais como chaves...depois ela torna-se grandiosa, como perder um continente.E a forma como ela diz, parece não ter importancia. Ela quer que soe
como se não tivesse importancia, porque ela sabe, no fundo, como é ruim o sentimento de perda.
- Perder o quê? Ou quem? Um amante?
- Não. Um amigo.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Oh Shit!!

Essa tecla devia ser obrigatória em todos os teclados, tô precisando dela! rsrsrsrs!!!




domingo, 26 de abril de 2009

Fonte de Inspiração

A idéia inicial para criar este blog foi escrever sobre coisas que não achava espaço em outro lugar. Meus sonhos, meus desabafos ou minhas impressões sobre qualquer coisa, sobre um filme ou livro, ou outras coisas, boa ou ruim.
Uma delas são os filmes que gosto. Nem todos são daquele tipo que todos achariam bom, mas gostos não são iguais e quanto a eles não se discute (muito, rs). Por ter um gosto não muito comum (bruxas, filmes e jogos de terror, mística e afins...) sempre acho dificuldade em encontrar espaço para comentar minhas impressões, seja no meio virtual, seja entre amigos mesmo.
Bem, vou começar com o primeiro filme com o qual sempre tive vontade de fazer isso e que sei que é pouco (e talvez totalmente) desconhecido, mas que me influenciou muito em muitas coisas que escrevi e se enquadra com aquele tipo favorito dentre os que assisti e que até hoje ainda assisto como se nunca fosse enjoar dele.

Foi em 1999, no auge dos besteiróis americanos, com filmes de “terror teen” como Pânico e Eu sei o que vocês fizeram no verão passado, além de outras imitações piores, apareceu um outro filme que chamava a atenção no cartaz por ser do mesmo autor dessa última tranqueira ai (“Eu sei...”). Esse foi o único motivo pelo qual meu irmão alugou Eu Estou esperando por você, um thriller também de adolescentes e que pela sinopse (enganosa) também pode parecer um besteirol como os outros, mas o fato de ter sido pelo mesmo autor e coisa e tal não o transformou na mesma matéria dos outros, pelo menos para mim.
A sinopse do filme foi feita provavelmente por alguém que não só não assistiu o filme como também queria colocá-lo em evidencia pelos mesmo motivo que fazia os outros terem sucesso: muitas mortes, muito sangue, muito “medo”. Mas diferente dos besteiróis de sucesso, estes elementos “clichês” não faziam parte desse filme e poderiam decepcionar quem o alugou só por este motivo (como lembro até hoje a opinião negativa do meu irmão e quando eu perguntava porque ele dizia “É um filme chato, não tem mortes, não acontece nada.” , eu ria, pois o “nada” para ele era só o ‘não tem ninguém sendo estripado ou decepado ou morrendo das formas mais ‘criativas’ que o cinema pode proporcionar’ e isso podia mesmo ser muito chato para quem só esperava isso desse filme).

Quando fiz uma cópia desse filme para mim, criei uma capinha diferente da chamativa e oficial de locadora e fiz uma sinopse mais verdadeira da história também, que seria basicamente isso:
“Sarah Zoltaine (Sarah Chalke, a Dra. Raid no seriado Scrubs) mudou-se recentemente com sua mãe, Rosemary (Markie Post) para uma velha casa na pequena cidade de Pinnecreast, Massassuchest. A lenda da casa que circula por toda a cidade é que há 300 anos uma garota chamada Sarah, que também viveu lá, foi queimada por bruxaria e como ultimas palavras lançou uma maldição jurando voltar para destruir todos os descendentes de seus assassinos. Agora acredita-se que a nova Sarah seja a reencarnação desta bruxa.”
Se a sinopse fosse só isso numa capa oficial de locadora, provavelmente só os mais interessados iriam querer assistir.

Baseado no romance “Gallows Hill” (não traduzido, que eu saiba, no Brasil, infelizmente) de Lois Duncan, esse filme tem vários elementos inspiradores e encantadores para mim: o clima frio de outono, o céu quase sempre nublado e com aquela sensação úmida no ar, as músicas (ou ritimos) combinando com esse clima, a história de bruxas numa época que este interesse florescia em mim (e que ainda hoje é o melhor de bruxas que já assisti), a sagacidade da protagonista, numa época em que elas eram apenas mocinhas que corriam de assassinos mascarados (embora exista um 'mascarado', ela não corre dele, rsrs).
Uma das primeiras coisas que notei de diferente neste filme foi como ele parece simples e um tanto verídico. Não há aquela “luz de estúdio” — que tira um pouco aquele tom de noite ou de mistério ao lugar — quando o clima é escuro, apenas com a ajuda de uma lanterna é possível ver o cenário durante essas cenas. Isso devia ser mais usado, dá um tom bastante diferente.
Os diálogos mãe-filha também são interessantes, o sarcasmo e a afeição afiados:
“Como foi hoje? – pergunta Sarah à mãe depois de seu primeiro dia como professora na cidade.
—A carinha dos alunos da 3ª série são lindas, um até me deu uma maça pelo meu primeiro dia!
—Nunca é cedo para aprender a arte da puxação de saco. –responde Sarah sarcástica. A mãe a olha aborrecida.
—Hmmm...quando se tornou uma convencida? Quando eu não estava olhando?
A filha dá um sorriso ardiloso ao responder:
—É quando tudo acontece.

Sarah é uma garota de cidade grande (Los Angeles) que se muda para a pequena cidade de Pinnecreast e tem problemas com os habitantes locais, principalmente no famigerado mundo escolar. Com suas roupas diferentes — vestidos longos, toucas, amuletos e cristais, e aquele sobretudo vermelho escuro estiloso — ela chama a atenção do povo interiorano, principalmente as patricinhas locais, que são uma espécie de fabricação em massa, com um estilo basicamente igual, seguida por toda uma classe de pessoas — principalmente os grupos populares ou os que tem a ver com esportes (maioria) que lhes dá uma espécie de status num lugar sem muitas atrações (isso lembra o lugar onde eu moro, rsrs, interior é uma b%¨&$ mesmo...) — além de sua suposta relação com a lenda da bruxa local, que a torna ainda mais alvo da aversão e comentários maldosos.

“A verdadeira maldição de Pinnecreast são as mentes obtusas. Qualquer pessoa um pouquinho diferente tem de ser, sei lá, filho de satã.” – diz Charlie, enquanto passeiam pela cidade, numa manhã ensolarada de outono. Charlie (Ben Foster, o Anjo em X-Men 2) é outro cara deslocado (de Nova York), o nerd da turma, o que sempre será zoado pelos valentões e populares, do qual as garotas sempre rirão. Ele tem uma loja esotérica na cidade e vira amigo de Sarah (por quem tem uma queda a primeira vista) quando ela vai à sua loja comprar algo para melhorar o ambiente pesado de sua casa. Lá ele a deixa a par da história de sua casa:
“Salem (também em Massassuchet) foi muito falada na imprensa, mas também tivemos nossa bruxa. Há 300 anos, cinco homens a arrastaram daquela casa e a queimaram no patíbulo, onde costumavam enforcar os criminosos. E esse local fica bem pertinho do seu novo “lar doce lar”. E quando estava sendo devorada pelas chamas prometeu que voltaria e puniria todos os descendentes um por um. Bem-vinha a Pinecreast, um bom lugar para criar os filhos.”

Mas Charlie não é o único a se interessar por Sarah na trama. Temos Eric (Christian Campbell), que faz parte do “Grupo dos Descendentes”, aqueles que estão na geração amaldiçoada pela bruxa. Ele é o tipo “mais popular entre os populares”, namora a patricinha arrogante da cidade que é a melhor amiga da ‘patricia-mor’ e vaidosa da escola. Logo no primeiro dia de aula Sarah chama sua atenção, ao ler um livro de quiromancia perto dele.
—Ah, leitura de mão...se interessa? – indaga ele tentando um primeiro contato com a garota.

O interesse de Eric é duplo. No grupo dos descendentes, a suspeita é que Sarah seja a tal reencarnação da bruxa que apareceria naquele ano para puni-los. Ao perceberem um certo interesse de Sarah por Eric, usam-no para tentar tirar algo que possa incriminá-la.
"A bruxa que devia voltar esse ano se chama Sarah.
— E daí, acham que eu sou a bruxa?
— O que você acha?"
E ao mesmo tempo, Eric, mesmo namorando a nojenta Kyra (Soleil Moon Frye, a Punky - Levada da Breca dos anos 80) sente uma atração pela misteriosa Sarah, mesmo dividido entre colocá-la em situações constrangedoras (de brincadeiras de mal gosto até tentativa de afogamento) para o bem do seu grupo e ajudá-la, cedendo a sua afeição.

—Mas eu odeio festas! – diz Sarah aflita, após ser convidada a participar como vidente (aproveitando-se da sua fama de ‘bruxa’ na cidade, embora fosse tudo uma brincadeira) em uma daquelas festas estilo americano. Eric a tranqüiliza:
Mas essa...essa você vai adorar.
—Mas eu não conheço ninguém.
—Pois é né...conhece a mim. –depois rola um beijo em close muito romântico seguido de uma trilha que dava um tom sereno a cena e não melosa ou apelativa. Foi bastante simples e bonitinha, com os balões de festa no fundo.
No decorrer da trama as coisas começam a complicar e o que Sarah pensou que fosse apenas uma história do interior que rondava pelas redondezas, começou a se tornar mais sério e perigoso do que ela imaginava.

“Acham mesmo que uma bruxa velha de 300 anos invadiu o meu corpo enquanto eu estava...dormindo, para levar vocês do clube dos descendentes para a morte? É isso mesmo que acham?” – indaga a garota desesperada depois que as coisas começam a se voltar contra ela. As pessoas começam a evitá-la e a trata-la mesmo como uma bruxa:
“Alho, seus idiotas, é pra vampiro! Não acreditam? Perguntem a Buffy. Ninguém aqui assiste televisão?” – numa alusão ao seriado da famosa caçadora de vampiros Buffy (curiosamente também uma “Sarah” Michelle Gellar).
“Problema de adaptação? Não ser escolhida para a comissão de festas é que é um problema de adaptação. Mas ser acusada de assassinato premeditado e feitiçaria. Isso sem falar do meu envolvimento com incêndios. Eu acho que a coisa é um pouquinho mais complicada!” – irrita-se a garota com o seu professor de história quando este tenta contornar as brincadeiras de mal gosto feitas contra ela na escola (como a bruxinha de brinquedo com uma risadinha maligna deixada próxima a ela com um bilhete dizendo “Queimem a bruxa!”).

Esse é um filme diferente. Pode ter ares de beiteirol para alguns, mas ele conseguiu me tocar no intimo com todos os elementos dos quais eu mais gosto, me envolvendo como nenhum outro conseguiu fazer. Além disso, de certa forma eu me identificava com a protagonista, que aproveita as horas sem a mãe em casa para fazer coisas que você só consegue fazer quando está sozinho, por mais bobo que seja, como colocar a musica que quiser para tocar, imitar uma cantora sedutora no espelho e fingir que a vassoura na verdade é o microfone e o par de dança (deslizando pelo soalho de meia? Referência a clássica cena de um jovem Tom Cruise em Negócio Arriscado (1983)), ou o modo como ela se questiona sobre si mesma "Tenha coragem Sarah, é uma experiência de crescimento interior, todos devem aprender a nadar. Vai ser útil no futuro. Se é que existe um futuro." - murmura ela refletindo sobre o fato de não saber nadar enquanto caminha ao redor da piscina.

É um filme para quem gosta de bruxas, mas também para quem gosta de originalidade e uma pitada de sarcasmo numa protagonista que não correrá de um mascarado, mas, antes de mais nada, tentará sobreviver no meio da hostilidade adolescente sendo ela mesma. Não é um contra todos como os habituais filmes da época. É todos contra um.

"Quanto a Sarah Lanchaster? Bem...ela voltou. Porque promessa, é dívida."