domingo, 18 de setembro de 2011

Fuga

        
         Explosões. A menina fazia aparelhos eletrônicos como celulares explodirem nos bolsos e mãos daqueles parasitas sobrenaturais, dando-lhes tempo para uma fuga apressada. A moça fez mais. Fez tudo ir pelos ares.
             Tudo o que importava para eles.
            Estava ali desde o inicio para aquilo. Trabalhou a manhã toda naquele forno que era o subsolo que conservava em temperatura quase infernal aqueles casulos. Precisou se livrar de um ou dois sentinelas, mas já estava acostumada a inconveniências. Só não esperou que precisaria detoná-los antes da hora.
Não. Não era verdade. Se, de tudo o que acontecera naqueles poucos minutos elegesse o que mais a tomou de surpresa, aquela não seria a primeira coisa a lhe vir em mente. 


O choque da explosão ainda retumbava em sua cabeça, mas não tanto quanto a da menina ao seu lado. Ela ainda tremia, apavorada, incapaz de erguer os olhos e ver que já haviam se distanciado. A fumaça preta inundava o céu e tapava momentaneamente o sol, dando ao ar uma aparência empoeirada. Olhando-a, a moça pensava que podia esperar por uma reviravolta qualquer partida deles, daqueles do qual fora atrás. Eram cheios de traição e por mais bem treinada que fosse, haveria sempre algo de novo a se encarar.


Mas ela lhe pegou de surpresa. Não esperava por uma interferência humana, de alguém que precisasse de sua ajuda. Não esperava por ninguém, aliás. Há muito tempo que sua única companhia era o próprio reflexo no espelho do carro e o banco do carona era preenchido pela mochila inseparável. Ela agora jazia desajeitadamente atirada no banco de trás, enquanto a menina, pálida, tentava recuperar a respiração ao seu lado. Aquela situação podia ser uma irrealidade para aquela garota, porém para ela, tê-la em sua companhia em tal momento é que era a verdadeira irrealidade.
            Pisou no acelerador. Não com medo da perseguição, ela talvez viesse. Mas para tirá-la logo dali. O sangue já escorria por entre seus dedos.




            Crepúsculo. 
         O entardecer foi lento e o laranja guinchou, transformando o sol num grande olho vermelho. Isso intensificou a paisagem desértica da encosta da estrada que pegava fogo. Nada daquilo parecia certo, até mesmo para os olhos da moça que planejara algo parecido. Não apenas naquele posto, mas nos outros no raio de distancia que conseguisse alcançar. Planejara por mais de um mês e agora era como se seus pensamentos se traduzissem em atos pelos quatro cantos. O que estava acontecendo? Era a tradução de seu olhar pelo fogo e fumaça que se estendia toda vez que do horizonte vislumbrava-se a estrutura metálica de um posto.  Agora até Maris tinha coragem de olhar, embora seu corpo continuasse tenso, como se do meio daquela fumaça, fosse sair uma horda que as reconheceria e lhe tomariam o encalço.



            Anoitecer. 
         Tudo era longo naquele dia, mas quando o céu mostrou os primeiros tons de anil, logo todo ele se tingiu de negro. Ou talvez fora as nuvens densas que adiantaram o escurecer do dia e o brilho não era das estrelas, mas dos relâmpagos sedentos por se desfazerem em descargas elétricas na terra desprotegida. Fora nesse horizonte apocalíptico que encontraram um desvio na estrada e seguiram por uma trilha no campo deserto. Era como se estivessem se encaminhando mais rapidamente para a tempestade e Maris engoliu a seco a sensação de desconforto com o céu coberto de nuvens imensas de chuva, brilhando de instante em instante como um gênio maligno só esperando elas se aproximarem mais. Sentiu-se pequena diante das rajadas de vento e da poeira que subiu contra o para-brisa, mas sempre que olhava para a mulher que conduzia o veiculo, ela estava da mesma forma que saira daquela lanchonete coalhada de monstros. Impassível, concentrada no que realmente importava. E não era no medo. Perto dela sentia que a escuridão não era a pior das coisas, mas o seu próprio medo diante dela. Tinha de se controlar, ou aquele sangue entre seus dedos não pararia de jorar.

1 comentários:

Gabi S. disse...

to esperando o resto ainda ._.